Notícia - Epidemias de aids, malária e tuberculose estão em queda no mundo

Epidemias de aids, malária e tuberculose estão em queda no mundo

Menos pessoas estão morrendo no mundo em decorrência de malária, tuberculose e infecção pelo HIV. Os novos casos dessas doenças também estão em queda. É o que mostrou uma nova análise do Global Burden of Disease, um extenso estudo que avalia o impacto de diversas moléstias ao redor do mundo.

Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado na última semana já havia apontado que as novas infecções pelo vírus da aids, assim como as mortes associadas à doença, estão em queda no mundo. Essa nova pesquisa realizou uma análise estatística diferente, além de fornecer dados sobre outras duas moléstias.

O estudo demonstra que houve progresso no combate à tuberculose, malária e infecção pelo HIV principalmente a partir de 2000, quando foram assinados os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, metas propostas pela ONU a serem cumpridas até 2015. Desde a criação do projeto, as mortes anuais causadas pela tuberculose, por exemplo, caíram de 1,6 milhão para 1,4 milhão. Já os óbitos decorrentes da infecção pelo vírus da aids diminuíram 1,5% ao ano entre 2000 e 2013.

Brasil — Os números sobre essas doenças variam de acordo com o país. O Brasil seguiu a tendência mundial e apresentou uma redução na mortalidade causada pelo HIV entre 2000 e 2013. O número de novas infecções, no entanto, se estagnou no país durante esse período, enquanto entrou em queda no mundo.

Esse dado difere-se do relatório da ONU, que apontou que os novos casos de contágio pelo HIV cresceram no Brasil desde 2005. Segundo Paulo Lotufo, diretor do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP, o Global Burden of Disease leva em consideração não apenas o número absoluto de infecções, mas também o crescimento da população do país no período analisado. "Houve aumento, mas não foi estatisticamente significativo", diz.

Lotufo considera que uma epidemia estagnada sempre é algo preocupante. Segundo ele, porém, essa diferença entre o Brasil e a tendência mundial pode acontecer porque alguns países estão apresentando uma redução dos casos de infecção pelo HIV que já aconteceu há alguns anos no Brasil.

Em relação à malária e à tuberculose, o Brasil seguiu a tendência mundial e apresentou, entre 2000 e 2013, uma redução na incidência e na taxa de mortalidade de ambas as doenças.

A pesquisa foi publicada nesta segunda-feira no periódico The Lancet e será apresentada na 20ª Conferência Internacional de Aids, em Melbourne, na Austrália. Os autores se basearam nos dados sobre prevalência e mortes por malária, tuberculose e HIV registrados entre 1990 e 2013 em 188 países. O estudo foi coordenado por Christopher Murray, professor de Saúde Global da Universidade de Washington, Estados Unidos, e financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates.

"Nós temos visto um grande aumento de políticas públicas focadas no HIV, malária e tuberculose nos últimos treze anos, e os nossos resultados sugerem que isso tem um impacto real. Porém, ainda há muito que ser feito. Essas três doenças continuam sendo um desafio para a saúde", diz Murray.

HIV — O levantamento mostrou que as mortes causadas pelo vírus da aids, assim como os novos casos da doença, vêm diminuindo. No entanto, o número de pessoas que vivem com a condição cresceu de forma constante no mundo até chegar a cerca de 30 milhões de indivíduos em 2013. Essa estimativa é menor do que a apontada pela Unaids, de 35 milhões.

Segundo o estudo, houve 1,3 milhão de mortes no planeta associadas ao HIV no ano passado. Esse número caiu em quase um quarto desde 2005 (1,7 milhão de mortes), quando houve um pico mundial de mortalidade por aids.

Além disso, 1,8 milhão de pessoas contraíram o HIV em 2013, cerca de um terço a menos do que em 1997, quando as novas infecções pelo vírus chegaram a 2,8 milhões. A pesquisa também indicou que, desde 2000, quando as metas da ONU foram assinadas, os novos casos da doença caíram 2,4% ao ano entre adultos e 7% ao ano entre crianças.

Os pesquisadores atribuem esses avanços ao sucesso de intervenções para controlar a epidemia de aids, especialmente o tratamento com antirretrovirais e a prevenção de transmissão do vírus de mãe para filho.

A maioria das infecções pelo HIV continua se concentrando na África Subsaariana. Além disso, ainda existem regiões onde a epidemia ainda está em crescimento, e os autores do estudo atribuem isso à redução de campanhas de saúde focadas em profissionais do sexo e homossexuais.

Tuberculose — O levantamento mostrou que o combate à tuberculose se intensificou a partir de 2000. A taxa de pessoas com a doença aumentou 0,4% ao ano entre 1990 e 2000, mas diminuiu 1,3% ao ano entre 2000 e 2013. Os pesquisadores atribuem esse progresso principalmente à redução da moléstia no leste e no norte da Ásia, onde ocorre mais da metade de todas as mortes por tuberculose no mundo.

Em 2013, houve 7,5 milhões de novos casos de tuberculose no mundo e 1,4 milhão de mortes pela doença. De acordo com os pesquisadores, a taxa de mortalidade pela doença tende a crescer com o avanço da idade. Por isso, o envelhecimento da população mundial pode representar um problema para o combate à moléstia.

Malária — A pesquisa também aponta para progressos em relação ao combate da malária. Os casos da doença no planeta atingiram um pico em 2003, quando 232 milhões de pessoas contraíram a enfermidade. No ano passado, esse número caiu para 165 milhões. Já as mortes tiveram um pico de 1,2 milhão em 2004 e caíram oara 855 000 em 2013.

A análise demonstrou que incidência e mortalidade por malária no mundo se concentram na África Subsaariana. Os óbitos ocorrem principalmente entre crianças com menos de cinco anos.

"Um grande progresso foi feito para reduzir infecções e mortes por malária, mas precisamos de mais histórias de sucesso na África para que possamos erradicar a doença", diz Corine Karema, uma das autoras do estudo e membro da Divisão de Malária e Outras Doenças Parasitárias do Ministério da Saúde de Ruanda.

"Essas três doenças são principais causas de perda de saúde em países pobres, e devem ser o foco de ações de saúde global. Sem isso, o risco de estagnação, ou mesmo de piora, pode reverter todo o progresso recente", diz Alan Lopez, professor da Universidade de Melbourne, na Austrália, e um dos responsáveis pela pesquisa.

Fonte: VEJA Saúde

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