Notícia - 14/09/2009 - Alimentação da criança com HIV/AIDS

14/09/2009 - Alimentação da criança com HIV/AIDS

A maioria dos estudos em HIV/AIDS tem como foco os pacientes adultos e, desse modo, os resultados nem sempre podem ser aplicados às crianças. Porém, o aumento da prevalência da infecção pelo HIV na infância tornou imprescindível a definição de estratégias e terapêuticas objetivas que visem aprimorar a qualidade de atenção às crianças.

A progressão da AIDS em crianças infectadas que não estejam sendo tratadas é muito maior quando comparada ao que acontece entre os adultos: já no primeiro ano de vida, elas podem apresentar doenças oportunistas como pneumonia, candidíase, citomegalovírus e tuberculose. Além disso, as crianças apresentam comprometimento no seu crescimento e desenvolvimento.

A perda de massa corporal, por exemplo, é uma das manifestações mais graves da doença por HIV. Nas crianças, o retardo de crescimento e desenvolvimento é sintoma reconhecido desde o início da epidemia. Os bebês nascidos de mães infectadas pelo HIV parecem ganhar menos peso aos três meses de vida e, aos seis meses, aparentam ser menores do que os bebês expostos, mas não infectados, pelo HIV.

Nas crianças maiores a perda de massa corporal e a baixa estatura são achados clínicos comuns. Os bebês, em particular, têm um sistema imunológico fraco, menos eficaz na luta contra o HIV. Diante dessas evidências, hoje, dentre os recursos utilizados para o tratamento de crianças vivendo com HIV/AIDS, a nutrição tem um papel fundamental, pois tem demonstrado melhorar a qualidade de vida e, possivelmente, retardar a progressão da doença.

A boa alimentação deve fazer parte do tratamento, uma vez que o sistema imunológico está diretamente relacionado ao estado nutricional. Assim, uma criança bem alimentada é menos vulnerável às doenças, pois tanto o HIV como a má alimentação, podem enfraquecer o sistema imunológico, afetando a capacidade do organismo de se defender de infecções. Os bebês e as crianças HIV positivas que não estão em tratamento e que não se alimentam bem (desnutridas), além de apresentarem sério comprometimento no crescimento e no desenvolvimento, podem, ainda, desenvolver sintomas de AIDS mais rapidamente que as em tratamento e em bom estado nutricional.

O crescimento e desenvolvimento normais são fatores quase que inteiramente dependentes de uma nutrição adequada. Uma boa alimentação visa proporcionar à criança:

Equilíbrio entre idade, peso e estatura;
Desenvolvimento físico e psíquico harmonioso;
Funcionamento perfeito do organismo;
Fortalecimento do sistema imunológico, tornando a criança mais resistente a infecções.

Em mais de 90% dos casos a criança se infecta com o vírus da AIDS através da mãe, isto é, durante a gravidez, no parto ou na amamentação. Sendo assim, a recomendação veiculada pelo Ministério da Saúde (portaria da Secretaria Nacional de Assistência à Saúde n0 97 de 28/8/95) é de que as mães soropositivas não devem amamentar seus filhos nem doar leite. O bebê só poderá tomar o leite da mãe soropositiva se for adequadamente pasteurizado no banco de leite. Esses cuidados possibilitarão o fortalecimento do seu bebê, sem correr riscos de infecção pelo vírus da AIDS.

O ideal seria lançar mão dos leites modificados (leite em pó específico para bebês) que, apesar de serem integrais, se assemelham na composição em relação ao leite materno, pois possuem vitaminas, sais minerais e ferro. Quando não for possível, pode-se usar leites integrais comuns (tipo leite B) ou leite em pó comum. O volume e a diluição do leite dependem dos meses de vida da criança e seu estado nutricional. Nessa fase o acompanhamento mensal do pediatra e nutricionista é fundamental.

Os recém-nascidos têm mais facilidade de contrair infecções. Sendo assim, os cuidados nesse período devem ser redobrados, principalmente em relação à higiene.

Instruções para o preparo de mamadeiras:

lave bem as mãos antes de preparar o leite
lave a tampa do leite em pó antes de abrir a lata
lave as mamadeiras, o bico, o anel e a colher-medida do leite. Ferva tudo durante 5 minutos. Quando possível, use um esterilizante químico a frio (à venda no comércio), seguindo a orientação recomendada, e conserve-os cobertos até o momento de usá-los.
faça as mamadeiras com água filtrada e fervida por 5 minutos.

toda água oferecida, inclusive as minerais, devem ser fervidas e acondicionadas em garrafas térmicas ou então em recipientes de vidro ou plástico muito bem lavados e tampados.

A partir do 3o ou 4o mês, inicia-se gradativamente os alimentos sólidos, através das papas de frutas e de legumes. O apetite de um bebê nunca deve ser comparado ao de outra criança. Alguns bebês devoram grandes quantidades de alimentos para saciarem seu apetite, enquanto outros se satisfazem com pequena quantidade.

Grupos de alimentos

Para seguir uma boa alimentação, de forma saudável e equilibrada, a criança, a partir dos 6 meses, necessita diariamente de quantidades adequadas de alimentos, que pertencem a três grupos:

CONSTRUTORES (proteínas) - leite, queijo, iogurte, ovos, carne (vaca, frango, peixe), vísceras, feijões, sementes.

ENERGÉTICOS (açúcar e gordura) -arroz, milho, trigo, aveia, massas, pão, batata, aipim, óleo, manteiga, melado, açúcar, caldo de cana, inhame, mel.

REGULADORES (vitaminas e sais minerais) - frutas, legumes e verduras. Um bom prato de comida deve ser bem colorido, variado, com os alimentos energéticos, construtores e reguladores.

Alteração intestinal

As funções digestivas de algumas crianças costumam passar por alterações quando iniciam alguns medicamentos. E normal que ocorra um ressecamento ou leve diarréia. Normalmente, é possível contornar esses problemas com as refeições. Uma alimentação rica em verduras de folhas verde-escuras, abóbora, mamão, laranja, abacate, melancia, ameixa seca e aveia faz com que o intestino da criança fique mais solto. Já batata, mandioquinha, inhame, cenoura, banana, maçã, goiaba, caju, creme de arroz e água de coco costumam melhorar a diarréia. No entanto, se a alteração intestinal for grande, o melhor é conversar com o pediatra e nutricionista.

A alimentação das crianças em HIV/AIDS é de suma importância para a saúde futura do indivíduo. Criança tratada e alimentada de forma correta dificilmente dá trabalho mais tarde. Informar-se sobre nutrição e o primeiro passo para se ter saúde, conseguir ter qualidade de vida e ser feliz!

Elaine Siqueira, nutricionista.

Mais informações sobre esse tema Manual Nutrição Superpositiva 2, editado e distribuído pela ABIA


Fonte: www.soropositivo.org

 
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